Ter liberdade para sonhar e oportunidades para realizar
Cooperativa de Catadores – Catando a Vida, esse é o nome de um espaço onde a cooperação faz a diferença desde o ano de 2007. Quem passa pela Rodovia Ibiassucê/Caculé Km 02, logo à esquerda da via, ao aproximar da cidade de Caculé, enxergará o espaço onde o lixo se torna material reciclável e depois renda para 16 pessoas que ali trabalham. Perceberá também a placa com letras grandes nas cores de um azul parecido com o do céu de Caculé em um dia ensolarado, o verde que inspira vida e um amarelo tímido, que está longe de atrair a mesma atenção do fardamento verde e laranja dos cooperados da Catando a Vida.
Mas tudo isso são apenas elementos de um cenário onde todas as pessoas são protagonistas, têm histórias, têm dores, algumas preferem não contar, mas acima de qualquer obstáculo sempre tiveram esperança de viver dias melhores. O trabalho na Cooperativa começa fora dela, inicia nas ruas durante a coleta dos nossos bens inúteis, daquilo que um dia teve uma importância, mas já não nos serve mais.
Ao chegar no espaço físico da Cooperativa, os materiais passam por processos de separação, prensagem, armazenamento e por último são comercializados e vão dar início à um novo ciclo. A garrafa de água sanitária que tinha virado lixo, por exemplo, será comercializada e se tornará parte de uma mangueira, um novo objeto que será muito útil. São coletados diariamente papéis, plásticos, vidro e metais, que ao serem prensados terão um novo valor social.
As garrafas de refrigerantes entram na Catando a Vida, e, sem nenhuma mágica, saem de lá vassouras com ótima qualidade, resultado da dedicação manual de Tan, apelido que os colegas usam para tratá-lo carinhosamente, ele é um dos responsáveis pela fabricação das vassouras na Cooperativa. Tan conta que já receberam encomenda em que tiveram que produzir uma média de 20 a 30 vassouras no dia, demandou muito esforço, mas deu tudo certo. Questionado sobre a quantidade de embalagens de refrigerantes que utiliza na produção, ele afirma que são necessárias oito garrafas para a fabricação de uma vassoura.
Em cooperação com Tan, trabalha Aparecida Dias, a Cida, 46 anos, cooperada há 12 anos, esse não é o setor de Cida, que realiza a separação do material, mas quando precisa ela dá suporte na fabricação das vassouras para cobrir as férias de outro cooperado. Vale destacar que ali existem mais do que 16 histórias e todas importam, a de Alda que se manteve distante o tempo todo envolvida com a separação dos materiais, de Edivaldo que se ausentou da Cooperativa, passou por uma tragédia familiar, retornou aos trabalhos com a reciclagem e busca seguir em frente diariamente. Todas as histórias são importantes.
O critério para apresentação aqui se explica por uma breve narrativa sobre uma adulta veterana, uma novata que acabara de vir da realidade dura de um lixão e um jovem que concilia trabalho, estudos e lazer.
Cida nasceu no município de Rio do Antônio, mudou para Caculé no ano de 1993 por causa do esposo, antes de começar a trabalhar, há 12 anos, na Catando a Vida ela recebia 160 reais por mês, através do Programa Bolsa Família, e mais 12 reais por dia quando encontrava serviço na quebra do milho, essa era a renda que mantinha as necessidades básicas dela, o esposo e os seis filhos. Foi um período de dificuldade com o esposo doente. Quando surgiu a oportunidade na Cooperativa a situação da família começou a mudar. Ela se orgulha ao dizer “criei meus filhos com isso aqui”, além do sustento, ela conseguiu tirar os filhos da cama de bloco, pôde dormir mais tranquila e comprou a tão sonhada geladeira e outros utensílios domésticos, sobretudo ela conquistou uma vida com mais dignidade a partir da reciclagem.
Enquanto Cida encontrava novos rumos na Cooperativa, Aline Vieira chegava de Vitória da Conquista para morar em Caculé, Aline que até então trabalhava como doméstica precisou recomeçar. E recomeçar trabalhando no lixão do município de Caculé sol a sol foi desafiador. Com 40 anos de idade, tem cerca de um mês que Aline foi convidada para ser parte da Catando a Vida após deixar o nome na Cooperativa à espera da oportunidade. Quando a chamara ela não pensou duas vezes.
Aline Vieira, mãe de cinco filhos, avó, foi deixada pelo esposo, disse que não conhecia ninguém em Caculé, quando começou a trabalhar no lixão estava grávida do filho “caçula” e disse que criou os filhos sem o auxílio do ex-esposo e com muita dificuldade, ela afirma que: “a pessoa encarar lá é só quem tem precisão mesmo”. Além do serviço pesado, nem sempre era possível a garantia de uma renda, pois havia meses que não apareciam compradores para os recicláveis. Mas toda essa história tem virado passado. Do sol para a sombra, Aline agora trabalha com a separação de metais, separa cada pedacinho dos liquidificadores com cuidado e muita organização.
Há 12 anos, enquanto Cida encontrava novos rumos, Aline começava a vivenciar um grande desafio e usar toda a força para suportar as responsabilidades que a vida exigia dela. Ali, tão perto, estava Djair Brito, uma criança de seis anos, que certamente não imaginaria que aos 18 anos de idade estaria trabalhando com reciclagem, sendo colega de Cida e Aline, e se tornando o cooperado mais jovem da Catando a Vida.
Djair Brito começou os trabalhos na Cooperativa Catando a Vida após convite da tia assim que completou 18 anos de idade, Djair ou D ainda é estudante do Ensino Médio, e na Cooperativa ele trabalha na coleta e na prensagem. Sempre morou na área rural e ajudava os pais com as plantações e as empreitas (serviços prestados a outros agricultores). Djair gosta de jogar futebol e passear a cavalo no tempo livre. Seu maior sonho é construir uma casa.
Ter liberdade para sonhar e oportunidades para realizar - além da geração de renda para os trabalhadores da Cooperativa, a comunidade e o meio ambiente só tem a se beneficiar com as atividades da Catando a Vida no município de Caculé. A reciclagem contribui para que muito material que seria descartado no lixão seja reaproveitado e evitando, assim, danos ambientais.
O Centro Público de Economia Solidária (Cesol) Sertão Produtivo, gerido pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Baiano – IDSB, tem a satisfação em assessorar a Catando a Vida desde o ano de 2013. O Cesol Sertão Produtivo é fruto de uma política do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre).
Lançamento do Documentário Catando o Extraordinário
Nesta quarta-feira (18) o Cesol Sertão Produtivo lança o Documentário Cantando o Extraordinário – Cooperativa Catando a Vida. A produção faz parte de uma campanha sobre consumo responsável, iniciada pelo Cesol Sertão Produtivo desde o ano de 2019.
O objetivo é apresentar a história da Cooperativa de Catadores – Catando a Vida do município de Caculé e os processos no trabalho com os materiais recicláveis desde a coleta até a comercialização, além de incentivar a conscientização da população sobre a separação do lixo. O lançamento do documentário será às 19h na página do Facebook do Cesol Sertão Produtivo.