A desigualdade social e a crise ecológica, que culmina com as mudanças climáticas, estiveram hoje (18) no centro do debate de abertura do Encontro Nacional da Economia de Francisco, que vai até amanhã no Tucarena, teatro da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP). “Economia de Francisco” é como está sendo chamada a economia de inspiração solidária, espelhada na figura do Papa Francisco, que convocou um evento a ser realizado em Assis, na Itália, para discutir mundialmente esses temas, entre 26 e 28 de março de 2020.
O encontro que se realiza na PUC, com movimentos sociais e segmentos da sociedade civil, firma o compromisso dos brasileiros para o evento do próximo ano. Essa experiência deve reunir práticas e iniciativas de alternativas econômicas para fazer frente à economia política predominante no mundo hoje, de orientação neoliberal e contra os direitos dos trabalhadores e dos mais pobres.
Ao abrir os trabalhos, o sociólogo brasileiro radicado na França, Michael Löwy, destacou que existem dois problemas principais na época atual. “O primeiro é a desigualdade social. A Oxfam mostra que tem cinco megabilionários (no mundo) que possuem a fortuna equivalente à metade mais pobre da humanidade. É uma situação absurda, insuportável e injusta”, destacou.
E a outra situação fundamental da nossa época, segundo Löwy, é a crise ecológica, a questão da mudança climática. “Essa vai ser cada vez mais a principal questão social, econômica e política do século 21. Como evitar a catástrofe ecológica, a destruição da nossa casa comum, que está nos ameaçando?, indagou.
Löwy lembrou que uma abordagem desses dois problemas está na encíclica Laudato Si (“Louvado sejas”, em português), do Papa Francisco. “Esse é o ponto de partida para refletirmos o que poderia ser uma economia de Francisco.” Na encíclica, o Papa diz que temos de escutar o clamor dos pobres e o clamor da Terra: “São dois gritos que nos interpelam e exigem de nós uma tomada de posição”.
“Estamos em uma situação em que a pobreza e a miséria, a desigualdade social se agravam e a destruição da nossa casa comum se agrava a cada dia, a cada hora”, disse Löwy.
Para o Papa, o responsável dessas duas catástrofes é o ídolo capital, ou seja, o sistema socioeconômico. “Trata-se de um sistema global de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso”, diz. “E é perverso porque o único critério é a maximização do lucro”, lembra o sociólogo. “É um sistema no qual predomina a especulação e a busca de lucro financeiro, que ignora os efeitos dessa economia sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente.”
Fonte: RBA