Hoje, 20 de novembro, é celebrado o dia da Consciencia Negra. A data foi criada em 2003 e é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Ainda foi escolhida por coincidir com o dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Por isso, conheça personalidades que contribuíram para que os negros conquistassem cada vez mais o espaço e reconhecimento merecido.
1. Aqualtune (c.1600-?) - princesa e comandante militar
Aqualtune
Nascida no Reino do Congo, Aqualtune era uma princesa que ocupou um importante papel na sua terra natal. Comandou um exército de 10 mil homens contra o Reino de Portugal defendendo seu território.
Derrotada, foi vendida como escrava e trazida para Alagoas. No engenho onde estava como escrava ficou sabendo da existência do Quilombo dos Palmares e fugiu para o local levando consigo vários companheiros.
Ali teria três filhos que se destacariam na luta contra a escravidão: Ganga Zumba e Gana, líderes no Quilombo dos Palmares; e Sabina, a mãe de Zumbi.
A causa da sua morte é incerta, mas seus feitos ajudaram a consolidar o Quilombo dos Palmares como refúgio dos escravos na colônia.
2. Zumbi dos Palmares (1655-1695) - líder do Quilombo dos Palmares
Zumbi do Palmares
Zumbi dos Palmares foi o símbolo da resistência dos escravos que conseguiam fugir das fazendas de Alagoas e arredores.
Zumbi já nasceu no Quilombo e, portanto, livre. No entanto, numa das incursões contra o quilombo foi vendido para um sacerdote e assim estudou latim e português.
Desta forma sabia das péssimas condições de vida que estavam submetidos os africanos que eram trazidos à força para trabalharem nos engenhos nordestinos.
Volta ao Quilombo e quem o liderava era Ganga-Zumba. Nessa época, o lugar já tinha uma população de 30 mil pessoas e representava uma ameaça ao governo português. Por isso, decidem fazer uma oferta para que se entreguem sem violência.
A proposta é rejeitada por Zumbi que teria armado uma emboscada para Ganga-Zumba ou o envenenado. Começa, assim uma guerra entre os quilombolas, colonos e a Coroa portuguesa.
Liderando o Quilombo dos Palmares, seu exército foi derrotado, sua cabeça exposta em praça pública, mas seu exemplo de luta foi passado de geração em geração. A vida de Zumbi se tornou exemplo para o movimento negro atual.
3. Dandara (? - 1694) - esposa de Zumbi
Dandara
Além disso, participou da resistência contra o governo português lutando ao lado das tropas que defendiam o Quilombo dos Palmares.
Para não ser pega pelos soldados coloniais, Dandara preferiu suicidar-se, atirando-se num precipício.
4. Aleijadinho (1738(?)-1814) - escultor e arquiteto
Aleijadinho
Filho de um arquiteto português e de sua escrava, Antônio Francisco de Lisboa, foi alforriado pelo pai. Cresceu num ambiente de arte e pôde receber educação formal junto aos seus meios-irmãos.
Sendo pardo ou mulato nem sempre recebia o que lhe correspondia por suas obras e muitas peças não podem ter a autoria confirmada por carecerem de contrato.
Mesmo assim foi encarregado de várias obras importantes das ordens religiosas mais ricas da região das Minas Gerais. Suas obras estão em cidades como Congonhas, Mariana e Sabará e em vários museus brasileiros.
Desenvolveu uma doença degenerativa que o fez perder (ou paralisar) os dedos das mãos e dos pés.Mesmo gravemente enfermo não parou de trabalhar e imprimiu às suas criações um estilo inconfundível sendo reconhecido como grande mestre barroco do período.
5. Tereza de Benguela (?-1770) - rainha do Quilombo de Quariterê
Tereza de Benguela
Foi a rainha do Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso. Após a morte do companheiro, liderou a luta do quilombo contra os soldados portugueses. Sua grande inovação foi a instituição de um Parlamento no quilombo onde se discutiam as normas que regulavam o funcionamento do lugar.
Após ter tido seu exército derrotado, Tereza de Benguela foi morta e decapitada com a cabeça exposta em praça pública. Desta maneira, o governo pretendia o castigo por desafiá-lo servisse de exemplo para todos.
Dia 25 de julho, data de sua morte, é celebrado o Dia da Mulher Negra no Brasil.
6. Mestre Valentim (1745-1813) - paisagista e arquiteto
Mestre Valentim
Valentim da Fonseca e Silva, mais conhecido como Mestre Valentim, era filho de um contratador de diamantes e uma negra. Nasceu em Serro, Minas Gerais, e mais tarde, Valentim foi levado para o pai a Lisboa onde estudou.
No Brasil, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, então capital da colônia. Prestou serviço para as grandes ordens religiosas e realizou trabalhos para o Mosteiro de São Bento, a Igreja de Santa Cruz dos Militares e a Igreja de São Pedro Clérigos (já demolida).
Chamado de "Aleijadinho carioca" pelo seu talento foi também o autor do traçado original do Passeio Público e do Chafariz das Marrecas.
No entanto, sua obra mais conhecida é chafariz localizado na atual Praça Quinze, onde centenas de escravos recolhiam água para abastecer as casas.
7. Padre José Maurício (1767-1830) - músico e compositor
José Maurício Nunes Garcia
Nascido no Rio de Janeiro, de pais libertos, José Maurício Nunes Garcia seguiu a carreira eclesiástica a fim de ter uma educação formal. Além disso, estudou música, composição e regência, sendo exímio organista.
Com a vinda da Família Real ao Brasil, em 1808, a vida cultural do Rio de Janeiro sofreu um incremento considerável.
O príncipe-regente Dom João, admirador da música, nomeou-lhe mestre de Capela e o fez cavaleiro da Ordem de Cristo, uma das mais tradicionais ordens portuguesas.
Compôs, sobretudo, música religiosa que refletem exatamente a transição do barroco para o classicismo pela qual passava a música europeia.
Com as comemorações do bicentenário da Família Real em 2008, a obra de José Maurício Nunes Garcia foi redescoberta. Assim surgiram várias gravações de orquestras brasileiras e internacionais que permitiram sua divulgação às novas gerações.
8. Maria Firmina do Reis (1822-1917) - escritora e professora
Maria Firmina
Nascida no Maranhão, Maria Firmina dos Reis pode ser considerada uma pioneira em vários campos.
Foi a primeira mulher a passar para o concurso público como professora, a fundar uma escola mista e a escrever um romance "Úrsula" . Este livro anteciparia o gênero de literatura abolicionista que seria moda com "Escrava Isaura", de Bernado Guimarães (1825-1884).
Publicaria em 1871 um conto com a mesma temática "A Escrava" e reuniria seus poemas na coletânea "Cantos à beira-mar".
Maria Firmina foi completamente esquecida e silenciada da História do Brasil, mas pesquisas recentes tem trazido luz sobre sua obra e vida.
9. Luís Gama (1830-1882) - escritor e ativista político
Luís Gama
Nascido na Bahia de uma liberta e de um português empobrecido, Luís Gama nasceu livre, mas foi vendido como escravo pelo pai que estava endividado.
Foi para São Paulo aos 10 anos e trabalhou como escravo doméstico. Aprendeu a ler aos 17, e nesta época, conseguiu provar junto aos tribunais que era mantido como escravo injustamente e que, portanto, deveria ser posto em liberdade.
Um vez livre, Gama passou a atuar como rábula, um advogado sem diploma que pleiteava causas específicas. No seu caso, Luís Gama conseguiu libertar mais de 500 escravos alegando que todo negro chegado ao Brasil após 1831 deveria ser livre, tal como dizia a Lei Feijó.
Escritor abolicionista, o enterro de Luís Gama foi um verdadeiro acontecimento em São Paulo acompanhado por 4000 pessoas.
Em 2015, a OAB - Ordem de Advogados do Brasil, lhe concedeu postumamente o título oficial de advogado.
10. Francisco José do Nascimento (1839-1914) - marinheiro e ativista político
Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar
Natural do Ceará, filho de pescadores, desde cedo aprendeu o ofício do mar e exerceu de prático-mor. O abolicionismo se espalhava pelo país e no Ceará contou com o apoio decisivo dos jangadeiros.
Em 1881, os jangadeiros, liderados por Francisco do Nascimento, se recusam a transportar os escravos para o sul do país. Desta forma, o comércio ficou paralisado.
O ato do jangadeiro correu por todo país e foi saudado pelos abolicionistas como um gesto heroico. A partir de então, sua alcunha seria "Dragão do Mar" e entraria para história do estado e do país.
O Ceará foi a primeira província do Brasil a abolir a escravidão em 1884.
11. Machado de Assis (1839-1908) - escritor, jornalista e poeta
Machado de Assis
Nascido no Rio de Janeiro, Joaquim Maria Machado de Assis nasceu numa família pobre. Desde pequeno, o menino se interessava pelos livros e aprendeu francês, idioma com o qual escreveria alguns poemas.
Foi funcionário público em vários ministérios, enquanto desenvolvia sua atividade literária publicando crônicas e contos nos jornais.
Ainda assim escreveria nove romances fundamentais para a literatura brasileiradentre os quais se destacam "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas".
Além disso, fundou a Academia Brasileira de Letras, e foi seu primeiro presidente. A instituição ainda cumpre um importante papel na divulgação da língua portuguesa e tem a sua sede no Rio de Janeiro.
12. Mãe Menininha do Gantois (1894-1986) - Iyálorixá
Mãe Meninha do Gantois
Nascida na Bahia, Escolástica da Conceição de Nazaré, era descendente de uma linhagem de Iyálorixás ou líderes femininas que comandam um terreiro de Candomblé.
Mãe Menininha do Gantois foi escolhida aos 28 anos para ser a dirigente do Gantois, terreiro que havia sido fundado por sua bisavó.
Na década de 30, as celebrações de Candomblé ou Umbanda estavam proibidas por lei. Porém, ela se destacou em fazer que o Candomblé fosse conhecido por intelectuais e políticos.
A legião de admiradores da mãe de santo incluíam nomes como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, etc.
Graças a sua sabedoria, a religião afro-brasileira ganhou mais visibilidade e respeito.
13. Pixinguinha (1897-1973) - músico, compositor e arranjador
Pixinguinha
Pixinguinha, apelido de Alfredo da Rocha Vianna Filho, é considerado o maior flautista brasileiro, e ainda tocava cavaquinho, piano e saxofone. Começou a aprender música em casa e aos 14 anos já se apresentava em casas noturnas.
Na época do cinema mudo, os artistas negros não eram contratados para as orquestras que acompanhavam o filme, nem tocavam no hall do cinema.
No entanto, com a gripe espanhola, Pixinguinha consegue convencer um produtor a contratar o seu conjunto “Os Oito Batutas” , integrado somente por músicos negros. O grupo animaria os espectadores antes das projeções dos filmes.
Mais tarde “Os Oito Batutas” excursionam pela Europa por seis meses e voltam triunfantes.
Pixinguinha vai para o rádio onde escreve arranjos e conhece os grandes cantores da época, como Orlando Silva, que gravaria “Carinhoso”.
Suas canções até hoje estão no repertório dos grupos de choro, samba e MPB, pois ele é considerado o fundador da moderna música brasileira.
14. Laudelina de Campos Melo (1904-1991) - empregada doméstica e ativista política
Laudelina de Campos Melo
Nascida em Poços de Caldas (MG). Desde cedo teve que ajudar a mãe com trabalhos domésticos fazendo doces para ajudar o sustento da casa. Mesmo assim participava de associações culturais e se filiou ao PCB na década de 30.
Laudelina fundou a primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do Brasil, posteriormente fechada pelo Estado Novo.
Com a volta da democracia, Laudelina continuou a lutar pela valorização da cultura negra e do trabalho doméstico. Para isso, auxiliava a fundar associações de cunho político e cultural.
Também organizava manifestações e abaixo-assinados com o propósito de pressionar os legisladores a promulgarem leis favoráveis ao trabalhador doméstico.
Deixou sua casa em testamento para a Associação que ajudara a criar.
15. Carolina de Jesus (1914-1977) - escritora
Carolina de Jesus
Nascida na cidade de Sacramento (MG), Carolina Maria de Jesus frequentou a escola somente por dois anos.
Em busca de uma vida melhor, foi para São Paulo onde viveu na favela de Canindé e sustentava os três filhos vendendo papel e ferro.
Na década de 60, a favela seria deslocada por conta da especulação imobiliária e Carolina narra o cotidiano do lugar num diário. Ali conta as mazelas e a luta pela sobrevivência numa linguagem crua, mas poética.
O jornalista Audálio Dantas, da Folha da Noite, que cobria a ação do governo, ajuda Carolina publicar suas anotações. O livro seria lançado com o título “Quarto de Despejo”.
A publicação torna-se um sucesso imediato e é traduzida para 29 idiomas. Seguiriam a continuação, onde ela descreve o lugar da mulher negra dentro da sociedade brasileira, e “Provérbios”. Sua biografia seria publicada postumamente, em 1986, como “Diário de Bitita”.
16. Adhemar Ferreira da Silva (1927-2001) - atleta olímpico
Adhemar Ferreira da Silva
Natural de São Paulo foi pioneiro do atletismo brasileiro na categoria de salto triplo. Defendeu as cores do São Paulo e do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro.
Seu primeiro título foi o Troféu Brasil em 1947 e continuaria a brilhar sendo tricampeão pan-americano, sul-americano e quebrando vários recordes mundiais.
Consagrado nas Olimpíadas de Helsinque (1952) e de Melbourne (1956) foi o primeiro a ganhar uma medalha de ouro para o Brasil e ser bicampeão olímpico.
Além disso, foi escultor e participou do filme "Orfeu Negro", agraciado com a Palma de Ouro em Cannes em 1959. Formou-se em Educação Física, Direito e Relações Públicas. Ainda foi designado adido cultural na Nigéria onde atuaria de 1964-1967.
17. Grande Otelo (1915-1993) - ator e cantor
Grande Otelo
Nascido em Uberlândia (MG), Sebastião Bernardes de Souza Prata seria o primeiro ator negro brasileiro de projeção nacional e internacional. O apelido veio das aulas de canto, pois o professor previu que ele cantaria o papel de "Otelo", de Verdi, quando crescesse.
A carreira artística começou nas ruas da cidade natal quando o menino cantava e fazia graça para os transeuntes em busca de um trocado. Quando um circo chegou a cidade, Grande Otelo se apresentou com eles e seguiu viagem para São Paulo.
Começava assim uma profícua carreira de ator de teatro e de cinema, especialmente em comédias ao lado de Oscarito.
No entanto, gravou também títulos com diretores do Cinema Novo como "Rio Zona Norte", de Nelson Pereira dos Santos e "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade.
Foi também o primeiro ator negro a atuar no Cassino da Urca e mais tarde, participaria de vários programas de televisão.
A Escola de Samba Estácio de Sá o homenageou em 1986 e a Escola de Samba Santa Cruz fez o mesmo em 2015. Ambas agremiações são do Rio de Janeiro.
18. Ruth de Souza (1921) - atriz
Ruth de Souza
Natural do Rio de Janeiro, perdeu o pai aos nove anos e a mãe que trabalhou como lavadeira para criar os três filhos. Cedo se interessa pelo teatro e ingressa no Teatro Experimental do Negro, de Abdias de Nascimento. Também gostava muito de ir ao cinema e escutar ópera junto com sua mãe.
Através do crítico Paschoal Carlos Magno, consegue uma bolsa para estudar atuação nos Estados Unidos.
Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a atuar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Igualmente, foi a primeira a atriz negra a receber uma indicação de melhor atriz com seu papel no filme "Sinhá Moça". Isto ocorreu no Festival de Internacional de Veneza, em 1954.
Por isso, é chamada de primeira-dama negra da dramaturgia brasileira. Construiu uma exitosa carreira no teatro, cinema e televisão.
19. Marielle Franco (1979-2018) - socióloga, ativista e vereadora
Marielle Franco
Natural do Rio de Janeiro, nascida no Complexo da Maré, Marielle Franco estudou Sociologia graças a uma bolsa na PUC/RJ. Posteriormente, cursaria o mestrado em Segurança Pública na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Após a graduação, se envolveria com os movimentos pelos direitos dos negros e das mulheres. Entrou para a política filiando-se ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e foi assessora do deputado estadual Marcelo Freixo (1967), atuando especialmente na Comissão de Direitos Humanos.
Disputou as eleições municipais, elegendo-se como a quinta vereadora mais votada e a terceira mulher negra a ganhar este cargo na cidade do Rio de Janeiro.
Em 2018, Marielle Franco voltou suas atenções para a intervenção federal que está ocorrendo no estado Rio de Janeiro e se tornou uma das principais críticas deste projeto.
Foi assassinada, junto com seu motorista, enquanto voltava para casa, após participar de um evento sobre mulheres negras no bairro da Lapa.