Quem é que produz a felicidade? Quem é mais feliz? Quem dá ou quem recebe?” Estas perguntas com conceituais respostas nortearam as frases do discurso do austríaco, natural de Viena, Paul Israel Singer que, nesta segunda-feira 14, recebeu na Assembleia Legislativa do Estado, o título de Cidadão Baiano.
“Quando um ajuda o outro, os dois são mais felizes. Mas quem dá fica mais feliz do que quem recebe. É muito melhor ajudar ao outro”, respondeu o próprio Paul Singer, do alto dos seus 83 anos. Em seguida, engatilhou: “Ninguém é feliz sozinho. Precisamos uns dos outros. Ninguém é melhor que outro, desde que consiga ser humano e decente. Tornar a felicidade das pessoas é a nossa luta”, destaca.
Sob aplausos, o homenageado foi ainda mais enfático: “Não estamos sozinhos. Estamos mudando o mundo. Tenho muito orgulho em ser companheiro de vocês. E creiam, a coisa mais sublime é a solidariedade. Sem ela, a Economia Solidária se degenera”. Ouvido com muita atenção, carinho e respeito pelos companheiros, ressaltou: “Fico extremamente comovido com esta homenagem de vocês. Estamos juntos, ombro a ombro. Vocês estão deixando um companheiro extremamente feliz”.
Homenagem
E foi assim. Em clima de festa e discursos, a Assembleia Legislativa do Estado homenageou um dos mais aguerridos defensores da Economia Solidária no Brasil. Titular da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), Paulo Israel Singer é professor aposentado e militante das causas sociais. A honraria foi concedida pela deputada estadual Neusa Cadore (PT) na presença de representantes de empreendimentos econômicos solidários e de lideranças de várias regiões do Estado.
Secretário estadual do Trabalho e Esporte, Álvaro Gomes, representando o governador Rui Costa, disse da felicidade de todos os baianos em homenagear uma figura tão importante: “Tê-lo como conterrâneo. Ter um pensador, um intelectual com a sua visão em defesa dos que mais precisam, é uma alegria para todos nós baianos”, valorizou.
Superintendente de Economia Solidária da Setre, Milton Barbosa alinhou o esforço do Governo do Estado nos últimos anos em fortalecer a Economia Solidária e disse: “O senhor nos inspira pela sua gestão e como mestre em tornar a economia solidária uma economia real”.
Secretário de Desenvolvimento Rural (SDR), Jerônimo Rodrigues elogiou o homenageado: “A Bahia está adotando o Senhor pela sua contribuição de estudos para a Economia Solidária. E esta homenagem é uma simbologia de um novo modelo de sociedade que estamos construindo”.
Deputada estadual Neusa Cadore saudou Paul Singer lembrando: “Os frutos de sua semeadura e de tantos outros companheiros, é o sonho de todos que batalham pela diminuição das desigualdades sociais no país. Hoje, o povo da Bahia, por diversas razões, sente-se honrado por tê-lo como irmão”.
Prestigiaram o evento, além dos já citados, o presidente de Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Nilo; professora Ronalda Barreto; mãe Nilza de Oxum; e a representante do Fórum Baiano de Economia Solidária, Debora Nunes, incluindo parlamentares estaduais e federais.
Data referência
A solenidade de outorga do titulo de Cidadão Baiano a Paul Singer integra a Semana Baiana da Economia Solidária e também celebra o Dia Nacional da Economia Solidária, a ser comemorado nesta terça-feira 15. A data faz referência ao aniversário do ambientalista Chico Mendes, símbolo da luta pelo desenvolvimento sustentável.
A sessão pública foi organizada pela Subcomissão de Autonomia Econômica da Mulher; Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, por meio da Superintendência de Economia Solidária; Centros Públicos de Economia Solidária; Fórum Baiano da Economia Solidária; Coordenadoria Ecumênica de Serviços; Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3; além de outras organizações do segmento.
Quem é Singer?
Filho de pequenos comerciantes judeus, Paul Singer nasceu em Viena (1932) e chegou ao Brasil ainda criança fugindo do nazismo. Ainda jovem, participou do movimento de colônias agrícolas judaicas de base cooperativista (kibutzim). Em 1951, formou-se na Escola Técnica Getúlio Vargas e passou a trabalhar como eletrotécnico.
Filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e engajou-se no movimento sindical. Ingressou no curso de Economia da USP e em paralelo começou sua militância no antigo Partido Socialista Brasileiro e na Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop). Em 1960 iniciou sua atividade docente também na USP e teve seus direitos políticos cassados em 1969, em razão do golpe militar, tendo que se aposentar compulsoriamente. Participou do grupo de resistência à ditadura militar e, mais tarde, ao lado do ex-presidente Lula ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores.
Exerceu a função de secretário municipal de Planejamento do governo Luiza Erundina de 1988 a 1992. Desde 2003 dirige a Senaes, vinculado ao Ministério do Trabalho, colaborando para a difusão da Economia Solidária, o fomento, a ampliação e o fortalecimento das políticas públicas nesta área em todo o país, inclusive na Bahia.
O que ele defende?
Paul Singer defende uma forma de organização socioeconômica, que se baseia na cooperação, na democracia, na participação equitativa, nas relações de produção e consumo solidários, ou seja, a Economia Solidária que no Brasil tem 30 mil iniciativas do gênero, a maioria na região Nordeste.
A Bahia se destaca com mais de dois mil empreendimentos associativos e cooperativos que têm contribuído com a inclusão produtiva de trabalhadores/as rurais e urbanos. Desde 2011, o Estado conta com a Lei da Economia Solidária (Lei 12.368) e avançou nas políticas públicas, dentre elas a criação de 15 Centros Públicos de Economia Solidária presentes em vários Territórios de Identidade. Esses equipamentos oferecem assistência técnica e formação aos empreendimentos solidários e às redes de economia solidária e comércio justo.
Texto da Ascom Setre.