A semente: o espírito de luta é a motivação
Há dez anos, a semente de uma grande ideia foi plantada, com a união de esforços para regá-la e fazê-la vingar. Com o passar do tempo e com mais mãos dispostas a molhar essa semente, numa terra que a abraçou, ela brotou, cresceu, floresceu e prosperou. Hoje, com raízes firmes, erguida com caules fortes, ramificada com muitos galhos, essa ideia tem nome, personagens, história e muitas conquistas.
Metaforicamente, podemos contar a história do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Baiano (IDSB) como narramos o crescimento de uma árvore. A motivação que levou os fundadores do Instituto, Eduardo Moraes e Wilde Soares, foi justamente esta: fazer com que um projeto de trabalho, baseado numa ideologia altruísta de vida, desse certo. Com a cabeça fervilhando para dar início a uma iniciativa colaborativa, solidária e sem fins lucrativos, e já com trabalhos desenvolvidos na área social, Eduardo e Wilde, à época colegas no curso de Ciências Contábeis, vislumbraram no Terceiro Setor a oportunidade de fundar uma instituição em que pudessem capacitar, profissionalizar gestores de outras ONG’s e levar à prática ações solidárias, para promoção de qualificação profissional, geração de renda e sustentabilidade.
Regar para colher: arrumando a casa
Foi no dia 11 de maio de 2005 que o projeto saiu do plano das ideias e foi para a prática: o IDSB foi oficialmente fundado. Seu estatuto foi redigido, a diretoria, montada, com seu corpo de presidência, secretaria, conselheiros fiscais e suplentes, com sede e foro na cidade de Vitória da Conquista, e com o objetivo de promover a democracia, igualdade, solidariedade, disseminação da ética, paz e direitos humanos. Além disso, primando pela transparência na gestão de ações que contribuem para a qualidade de vida, o desenvolvimento econômico-social, autonomia de comunidades, produtividade e geração de renda.
Wilde conta: “sempre tive ideias socialistas e fui muito presente na luta ativista por transformações e pela busca de um mundo mais justo. Eduardo pensava como eu. Juntos, discutimos a criação de uma associação com Élcio e Elias Dourado. Na época eu já era contadora do Banco do Povo, participei de um seminário, ainda em 2003, cujo tema era Terceiro Setor. Neste momento, uma luz se acendeu. Precisávamos nos oficializar enquanto instituição. Estudei, apesar de não haver muita literatura disponível sobre Terceiro Setor. E foi aí que realmente arregaçamos as mangas para fazer acontecer. Apresentamos o nosso objetivo num encontro com entidades, denominado 1º Encontro Estadual do Terceiro Setor. Isso sem nenhum dinheiro em caixa! Partimos para as parcerias, conseguimos parceiros importantes como Sebrae, Prefeitura de Conquista, apoios do Banco do Povo, Crediamigo, Banco do Nordeste, dentre outras instituições que acreditaram na gente. E o evento foi um sucesso."
Eduardo complementa: “A motivação para criar o IDSB veio do desejo em ter uma entidade regional que pudesse agregar a experiência acumulada de profissionais das mais variadas formações e militâncias. Assentado na minha vivência de mais de vinte anos na atuação, organização e direção de movimentos e entidades como Casa da Cultura, Agenda 21, Fórum Intersindical e Popular Conquistense, Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista, Sindicato dos Bancários, Associação de TV e Rádio Comunitária PeriPeri, Banco do Povo, Associação de Apoio à Saúde Conquistense (ASAS), Esporte Clube Primeiro Passo (ECPP), passei a compartilhar o que pensava com Elias, Wilde e Élcio, que comungavam os ideais socialistas e de luta por uma sociedade menos desigual. Então no dia 11 de maio de 2005, depois de muitas discussões sobre a criação do Instituto, realizamos a assembleia de fundação do IDSB, com a participação de colegas de trabalho, de faculdade e amigos, como Josenaldo, Iracildo, Adriza, Jocélia, Aline, Walmir, e outros”.
Os primeiros galhos: a formação da expertise em execução de projetos
De 2005 pra cá, o IDSB conquistou o título de Organização Social (OS), já executou com muito sucesso inúmeros projetos provenientes de políticas públicas da prefeitura municipal de Vitória da Conquista e do governo do estado da Bahia, sempre em parceria com a Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), como o Na Trilha do Emprego, Juventude Cidadã, Projovem Trabalhador, Qualifica Bahia e Planteq, em territórios baianos como o Médio Sudoeste, Vitória da Conquista e Sertão Produtivo. Para a execução desses projetos, muitos foram os órgãos parceiros, dentre órgãos públicos, como prefeituras e secretarias, universidades, associações, sindicatos e instituições privadas. Além disso, o IDSB sempre contou com uma grande equipe de colaboradores em todos os municípios em que atua, pessoas que vestem a camisa dos projetos e trilham junto com o Instituto um caminho de colaboração mútua, dentre eles instrutores, auxiliares, motoristas, prestadores de serviços dos mais diversos segmentos, todos com papel fundamental para a prosperidade de cada atividade.
Wilde conta: “em 2007, o IDSB vivenciou a sua primeira experiência com políticas públicas de estado, com a participação do edital do programa Projovem. Depois de comprovada a competência para execução de projetos, veio o Projeto Trilha, momento em que o IDSB ampliou sua área de atuação para todo o território do Sertão Produtivo. E a partir daí, ganhamos a confiança enquanto instituição, com prestação de contas feitas com responsabilidade e transparência.”
As ações do IDSB hoje já somam um público de milhares de pessoas atendidas, milhares de famílias beneficiadas, em dezenas de cidades baianas, entre áreas urbanas e rurais. Jovens e adultos que conquistaram um espaço no mercado de trabalho, que se qualificaram, que voltaram a estudar, que hoje têm capacidade de gerar sua própria renda e protagonizar sua própria história de vida, além de mulheres empoderadas, com nova consciência cidadã.
Eduardo comenta: “São dez anos de um trabalho tão intenso que as pessoas envolvidas diretamente no dia a dia da organização sequer percebem que já se passou uma década de trabalho árduo. É um trabalho construído de forma coletiva, onde todos os membros se doam pelo fortalecimento e consolidação do IDSB como uma referência em administração de uma entidade do Terceiro Setor, qualificada como OS. O nosso trabalho é um exemplo concreto de que para se construir um mundo melhor, o altruísmo e o amor ao próximo precisam estar aliados ao estudo e pesquisa sobre o que se faz. Ver a realização das pessoas que têm passado até aqui pelos cursos de qualificação social e profissional nos enche de felicidade, não há, para nós, nada que pague o testemunho da mudança de perspectiva de vida e renovação de esperança das pessoas.”
Raízes fortes: o Centro Público de Economia Solidária
Depois de uma atuação ampla no território do Sertão Produtivo através dos projetos de qualificação, em 2012, o IDSB concorreu ao processo de seleção de entidades responsáveis para gestão dos Centros Públicos de Economia Solidária do governo do estado da Bahia. O IDSB foi contemplado e desde então é a instituição que faz a gerência do Centro Público de Economia Solidária do Território do Sertão Produtivo (Cesol), com sede na cidade de Guanambi. A conquista de gestão do Cesol representou na história do Instituto um grande passo, comprovando sua expertise e credibilidade no assunto de gestão do Terceiro Setor, a confiabilidade no trabalho que foi desenvolvido, consolidando a sua experiência e capacidade técnica, gerencial e administrativa.
Entrando num novo campo, aberto para estudo e trabalho, o da Economia Solidária, o Cesol Sertão Produtivo hoje atende um público de mais de cem pequenos empreendimentos associativos do território que recebem gratuitamente assessorias nas diversas áreas como contabilidade, jurídico, marketing e design, manipulação de alimentos, artesanato, administração, vendas e comércio. Tudo isso, com o objetivo de que o Cesol seja um espaço multifuncional, com caráter comunitário, que articule oportunidades de geração de renda, fortalecimento e promoção do trabalho solidário.
.Frutos e flores em cada estação: os anos que virão
Sobre os anos que ainda virão de trabalho para o IDSB e sua equipe, Eduardo fala: “Completar dez anos de atividades voltadas para um público que é marginalizado pelo sistema, invisível aos olhos de muitas pessoas, é, sem dúvida, gratificante e motivo para comemoração. Sinto-me honrado pelo que conquistamos, ao tempo em que renovo as energias para os próximos dez anos. Há uma coisa interessante quando se fala de sustentabilidade, as pessoas acham que esse termo está somente ligado à preservação do meio ambiente, mas essa é uma visão equivocada. Sustentabilidade tem várias frentes. O que fazemos no IDSB no momento em que executamos um projeto de qualificação é sustentabilidade através da educação, da possibilidade de que a pessoa tenha outra visão das coisas, do que é empoderamento, do que é seu lugar no mundo enquanto protagonista de sua história, seja na comunidade ou na família. O Cesol, quando dá as ferramentas necessárias para que um grupo produtivo se aperfeiçoe para comercializar, isso é sustentabilidade. Quando motivamos o resgate de manifestações culturais nas comunidades em que atuamos, estamos incentivando o empreendedorismo, isso é sustentabilidade. Então, há uma visão muito mais ampla, e é com base nisso que continuaremos trabalhando, acreditando que o mundo pode ser um lugar melhor para todos aqueles que estão em situação de vulnerabilidade, principalmente.”