Regina Dantas de Carvalho, da Coordenação Estadual dos Territórios (CET), que está à frente do espaço Rota da Integração da Agricultura Familiar da Bahia na Exposição Agropecuária de Vitória da Conquista, em entrevista fala sobre parceria com o CESOL Sertão Produtivo, elogia os empreendimentos do nosso território e avalia o fomento da Economia Solidária na Bahia e resultados de projetos como Rota da Integração e Centros Públicos.
CESOL: Qual é a importância de fomentar a agricultura familiar e economia solidária na Bahia?
REGINA DANTAS: Fomentar a agricultura familiar deve ser papel de todo cidadão, porque é dela que advém o alimento de qualidade para a mesa, para o nosso consumo. E a economia solidária, que emerge não só da produção da agricultura familiar, mas também dos artesanatos, é uma forma de levar renda às famílias e agregar valor aos produtos. Ou seja, temos que valorizar, pois existem pessoas talentosas que estão silenciadas, caladas, com trabalhos belíssimos nos fundos das malas nas casas, nas zonas rurais, escondidos, precisando de resgate. Fomentar é isso, resgatar, incentivar. E o governo do estado da Bahia faz isso, projetos como os Centros Públicos, por exemplo, são importantíssimos porque fazem o resgate de trabalhos como estes.
CESOL: Sobre a participação de empreendimentos assessorados pelo CESOL Sertão Produtivo na Rota da Integração, como você avalia?
REGINA: Todas as peças de artesanato que vêm do Espaço Solidário, especialmente representadas por dona Ana, de Guanambi, e os alimentos, principalmente da Caprina, de Pindaí, é um enriquecimento para este nosso espaço. Hoje, eu não consigo conceber uma feira sem eles. Levei para Condeúba; para Feira de Santana; e para Salvador. As pessoas, os frequentadores das feiras, perguntam se eles virão ou não. Sinto também que eles estão mais animados com o que fazem, mais confiantes, é a sensação que tenho. Eles estão descobrindo espaços, mercados, estão sendo valorizados.
Sobre a Caprina, o pessoal pergunta a Adolfo e Isaura, 'como é feito esse negócio de bode?', porque existe um preconceito com a carne de bode, mas eles têm prazer em explicar, que são eles que criam, que abatem, que preparam para o consumo, que vendem. Explicam tudo, e conseguiram, dessa forma, com anos de experiência, fazer um produto de tanta qualidade, que transformaram a carne de bode numa carne nobre, com glamour. O bode da Caprina é glamouroso! A qualidade é fantástica.
O bordado de dona Ana, da Casa do Artesão, não tenho nem coragem de falar diante o nível de qualidade, não dá para dimensionar. Os produtos dela em específico, que tenho na minha casa, uma vez uso pelo lado certo, e outra vez pelo lado avesso, fica parecendo que é outra peça, é sério! Por conta da perfeição. Ela faz com carinho, você percebe claramente que é a vocação dela, fazer e fazer bem feito. Ela sente o maior prazer em ensinar, inclusive. Em Feira de Santana, o pessoal admirava e o maior prazer dela era chamar a pessoa 'vem aqui que eu te ensino'. Então ela é essa pessoa, humana, linda, que faz o que gosta porque acredita naquilo.
Então pra mim a presença deles só enriquece a feira. São pessoas que a gente já coloca para toda feira, dona Ana, Adolfo e Isaura e Dute e Beija Flor da cerâmica, já digo logo que vamos levar. As cooperativas aqui já têm seu assento dentro do processo da Rota da Integração por conta da Rede Gavião, são nossas sete cooperativas, é uma família. E a parceria com o CESOL proporcionou que a gente agregasse mais pessoas a essa família.
CESOL: Em relação ao projeto Rota da Integração da Agricultura Familiar da Bahia, como tem sido o resultado? Tem surtido efeito?
REGINA: Meu conceito de exposição é no sentido real da palavra, você vem expor para futuros mercados. Isso tem surtido efeito, sim. Quem vem aqui achando que é um supermecado para vender no varejo, está no lugar errado, porque o próprio nome já diz: exposição. E a maturidade do projeto estamos alcançando agora, essa já é a sexta feira que participamos, são quase cinco anos que o projeto adquire maturidade. Já temos pessoas que vêm procurar os empreendimentos. Isso foi muito forte na Fenagro em Salavador, as pessoas que já conheciam, que já tinham ido em outra feira e visto, já retornam procurando o empreendimento. Então é um processo de maturidade de qualquer projeto e estamos chegando nesse nível. E reafirmo: aqui é para expor, daí a importância de ser um produto bem feito, de qualideade, bonito, porque as feiras agropecuárias são lugares diferenciados.
CESOL: Para você, pelo contato que teve com o trabalho do CESOL também acredita que surte esse efeito positivo?
REGINA: Os Centros Públicos de Economia Solidária da Bahia são uma soma sem percentual de limite. Admiro muito o trabalho do Cesol Sertão Produtivo, conheço outros trabalhos de outros Centros, como o da região do Sisal. O que me admira muito é a seriedade, como preza por isso, e também pelo resgate da cidadania. Até onde coheço, isso pra mim é muito forte, essa missão, não é um trabalho simplório de só pegar produtos e colocar no mercado, mas sim de fazer um resgate da cidadnia. É uma escola de formar cidadãos e cidadãs para este mundo, sem agredir o meio ambiente, sem explorar trabalho infantil e mão de obra escrava. Vamos perpetuar essa parceria.