Refletir sobre a importância da Economia Solidária, produção e consumo de produtos artesanais é a tarefa primordial do CESOL, que vem trabalhando continuamente com grupos de Economia Solidária por todo o Sertão Produtivo. No texto abaixo, extraído do site Papo de Homem, escrito pelo colunista Ian Leite, vemos uma reflexão sobre o assunto, pertinente às discussões que o CESOL fomenta.
"Por ser uma pessoa sem muito jeito para trabalhos manuais, sempre achei fascinante o poder de transformar algo sem função — aparente — em um item com utilidade.
Grande parte dos móveis que compõem a casa onde cresci foram feitos em conjunto pela minha mãe e meu padrasto. São objetos feitos com janelas encontradas na rua, partes de navios naufragados, pedaços de vasos quebrados e toda sorte de materiais achados em viagens e andanças por aí. Acompanhava, desde os primeiros esboços, passando pela sujeira na área de trabalho até o seu destino final. Se você passar lá em casa e perguntar a história de um desses objetos, pode se preparar para tomar algumas xícaras de café.
Com a massificação dos bens, iniciada na Revolução Industrial e intensificada por Ford, vemos o conhecimento do trabalho manual concentrado em pequenos grupos. Se antes tínhamos diversos artesãos fazendo brinquedos e bonecos, por exemplo, hoje uma só pessoa pode fazer um modelo, que em seguida será replicado milhares de vezes, empacotado e enviado para sua casa.
Nossa mentalidade já está acostumada à produção em massa. Por que comprar um quadro, quando uma reprodução digital pode custar a metade do preço ou até menos? O que, às vezes, parece uma pechincha, pode acabar sendo um tiro no pé. A obsolescência programada – uma prática de mercado em que os produtos são feitos para durar pouco e logo serem trocados — nos faz consumir desenfreadamente.
Carros, geladeiras, computadores e celulares. Tudo vira lixo rapidamente.
Não há como comparar um item feito à mão a um industrializado. Os processos, a maneira de comprar e de vender são totalmente diferentes. O que precisamos levar em consideração antes de adquirir uma obra feita à mão, além do produto finalizado, são os valores imateriais que estão envolvidos em cada parte do seu processo de feitura.
Tempo
Cada artesão escolheu passar seu tempo construindo, bordando e esculpindo por amor. Ele não foi forçado a estar ali, foi uma escolha consciente de fazer da maneira mais difícil, da maneira mais demorada e com isso, cada minuto é um minuto de foco e atenção total.
Comunidade Local
Ao dar suporte à esse tipo de item, você está ajudando sua comunidade local a criar relações econômicas. Muitas vezes os artesãos compram matéria prima em sua própria cidade, ou até mesmo no seu próprio bairro, economizando em coisas como frete e logística.
Criar incentivo e demanda de conhecimento
Incentivar qualquer tipo de conhecimento ajuda na sua manutenção e disseminação. Iniciativas de sucesso podem ser tornar exemplos para possíveis novos empreendedores e artesãos.
Compra consciente
Boa parte dos produtos que consumimos vem de fora do país, portanto, não temos controle sobre as condições em que eles são feitos, como chegaram até o destino e quais matérias primas foram usadas. No caso de um item feito à mão, nosso contato é quase direto com o artesão, podemos ligar, visitar seu estúdio e conhecê-lo pessoalmente.
Exclusividade e customização
Nenhum produto feito à mão será igual ao outro. Pode ser o mesmo design, a mesma cor, mas vai existir alguma diferença, seja na pincelada, no tipo da madeira ou numa cor levemente fora de registro. Hoje, existem sete bilhões de pessoas que não têm um produto igual ao seu, e se você esperar mais dez anos, esse número será ainda maior.
Além disso, dependendo do produto, você pode deixá-lo ainda mais exclusivo, incorporando um pouquinho de sua personalidade."